O medo do desabastecimento de gás e a corrida para compra de botijões geram riscos para a segurança dos consumidores

Notícia publicada em 31 de março de 2020

ANP possui regras para estoque e transporte de gás que não estão sendo seguidas

Frente às tentativas de redução da proliferação do COVID-19, as recomendações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial de Saúde (OMS) foram reforçadas e mantém-se a orientação para o isolamento social.

Neste momento de incerteza, a população toma atitudes que impactam diversos mercados, como o estoque de alimentos, de álcool em gel e de demais itens necessários para a vida cotidiana. Entre os produtos que estão com alta demanda estão os botijões de gás de cozinha, item essencial na rotina de 97% dos lares brasileiros, principalmente, neste momento, em que, ao ficar em casa, se cozinha mais e gera o aumento do consumo de gás.

Com o rápido e expressivo aumento da demanda pelo produto, nas principais cidades brasileiras, muitos revendedores ficaram com pouco ou nenhum estoque. Na última semana, os serviços de venda via caminhão de gás e o atendimento de televendas ficaram congestionados, o que promoveu uma corrida dos consumidores para outros meios e a aglomeração de consumidores nas portarias das revendas. “Tivemos um aumento de 6 vezes no número de usuários ativos no aplicativo, além disso, o número médio de botijões por compra também subiu. O que confirma o que estamos vendo na cobertura da imprensa e em conversas com nossos revendedores, sobre a estocagem e aumento do consumo” diz Sheynna Hakim Rossignol, presidente do Chama Brasil, aplicativo de delivery de botijões de gás de cozinha. “Outro comportamento que nos chamou a atenção, relatado pelos nossos revendedores, é que alguns consumidores passaram a trocar os seus botijões antes que estejam vazios. Esse comportamento é totalmente atípico, na normalidade o consumidor aguardaria até que o botijão se esvaziasse completamente para então pedir outro. A única explicação é de fato, o medo de uma eventual falta de gás”, complementa.

Outra alternativa utilizada pelos consumidores foi a compra direta no depósito, o que traz riscos, não apenas em aumentar o contágio do COVID-19, mas também pela segurança dos consumidores. O transporte e estocagem de gás são regulamentados pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) para evitar os riscos de explosão e vazamentos.

De acordo com a ANP, é proibido carregar o gás em veículos particulares. Segundo resolução de 2015 da agência, botijões de gás de cozinha só podem ser transportados em caminhões, picapes abertas com proteção lateral e traseira, com fixação da carga e motos com sidecar que tenham autorização do ANP. Para poderem circular com o botijão de gás de cozinha, os veículos precisam exibir ainda a identificação e os condutores devem, em casos de emergência ou fiscalização, saber informar o que fazer no caso de acidentes, ter noção de primeiros socorros e portar a ficha de identificação.

Estocar o produto também não recomendado. Moacyr Duarte, analista de acidentes e riscos tecnológicos e naturais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) afirma que poucas residências têm as condições necessárias para estocar mais de um botijão. “As pessoas têm de ter bom senso, verificar se há espaço arejado e em boas condições. Nunca ele deve ser colocado dentro da residência. O ideal é comprar quando precisar e não estocar botijão”, completa.

Além disso, a agência alerta que quem compra além do necessário pode prejudicar outras pessoas que necessitam do gás, uma vez que gera escassez do produto no mercado e alto dos preços.

Segundo levantamento realizado pelo Chama, em São Paulo a média de preços no início de março era de R$ 71 e agora o botijão a média R$81, podendo chegar a R$135. Em Curitiba, onde a média de preço no início do mês era de R$69, passou para R$76. Em Belo Horizonte, os valores foram de R$ 71 para R$75.

No entanto, todo esse movimento não é necessário. “As entidades e distribuidoras do setor afirmam que o Brasil não vai ter uma crise de abastecimento, o que vemos foi uma corrida inesperada que gerou uma redução momentânea dos estoques. A oferta deve ser regularizada já na próxima semana”, afirma Sheynna. “Enquanto isso, precisamos que a população se conscientize e, a menos que tenha um caso de alto consumo, por cozinhar para muitas pessoas, por exemplo, não estoque botijões cheios em casa.”




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