Casais LGBTQPIA+ ampliam o significado de seus lares com a chance de gerar filhos biológicos, unindo afeto, ciência, direito e mais respeito.
Em anos de lutas por respeito, segurança e reconhecimento civil, a população LGBTQPIA+ conquistou avanços importantes. Uma das maiores vitórias foi o direito de formar famílias, com o reconhecimento legal das uniões civis. Dados do IBGE mostram que, em 12 anos, o número de lares formados por casais do mesmo sexo no Brasil teve um crescimento de 552%, de acordo com último Censo com o tema. Em Sorocaba, por exemplo, 66,3% dos casamentos homoafetivos registrados em 2022 foram entre mulheres. Junho é o Mês do Orgulho LGBTQPIA+ e o dia 28 marca, mundialmente, a luta por direitos e visibilidade. Neste contexto, uma nova e significativa conquista também começa a ganhar espaço: o direito de formar uma família biológica com suas companheiras ou companheiros, por meio das técnicas da medicina reprodutiva, como a fertilização in vitro (FIV).
“O avanço da ciência permitiu que casais homoafetivos possam realizar o sonho de ter filhos biológicos. É um passo importante no reconhecimento da diversidade familiar e no respeito à pluralidade de afetos”, afirma o ginecologista e especialista em medicina reprodutiva Dr. Lister Salgueiro, da Clínica Fértilis, de Sorocaba. Segundo ele, a procura por esse tipo de tratamento tem crescido na região, especialmente entre mulheres. Na FIV, uma das possibilidades é o método ROPA (Recepção de Óvulos da Parceira) é uma técnica de reprodução assistida que permite a casais homoafetivos femininos compartilhar a experiência da gravidez, em que uma das mulheres fornece os óvulos e a outra gesta o bebê, ou a gestação tradicional com óvulo da própria paciente e sêmen de doador anônimo. “O importante é que o casal se sinta acolhido, bem-orientado e seguro durante todo o processo. Nosso papel como equipe médica é oferecer não apenas tecnologia, mas também escuta, empatia e cuidado”, completa o médico.
Esse foi o caminho escolhido por Juliane e Larissa, casal que se conheceu em 2022 e, pouco tempo depois, já dividia o mesmo lar. Juliane, que já era mãe, sempre teve o desejo de ampliar a família. “A vontade de ter mais um filho nunca saiu do meu coração”, conta. Larissa abraçou o sonho e juntas decidiram tentar. “Ver o ultrassom pela primeira vez foi um alívio. Ouvir os batimentos do coração foi o som mais lindo do mundo. Ali começava uma nova história para nós”, emocionam-se.
O Brasil registrou, em 2023, o maior número de casamentos homoafetivos desde o início da série histórica do IBGE, em 2013: foram 11,2 mil uniões, sendo 62,7% entre mulheres. Em Sorocaba e região, os dados seguem a mesma tendência. No ano anterior, foram 184 casamentos entre pessoas do mesmo sexo — 122 entre mulheres e 62 entre homens. A legalização do casamento homoafetivo no Brasil teve início em 2013, com a Resolução 175 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que proibiu os cartórios de recusarem a conversão de uniões estáveis em casamentos. A medida reforçou o reconhecimento concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2011, que equiparou os direitos das uniões homoafetivas aos das heteroafetivas.
Hoje, com os avanços na legislação e na medicina, casais como Juliane e Larissa constroem suas histórias com muito orgulho. “Já imaginamos o nome, o quarto, a rotina com o bebê… tudo com muito amor e com a ajuda da nossa filha mais velha”, compartilham. Elas também deixam uma mensagem para outros casais homoafetivos que desejam ter filhos: “Não desistam. Vai doer às vezes, pode ser difícil, mas o amor que nasce depois vale tudo. É recompensador de uma forma que não dá para descrever.”
Imprensa: Por Bruna Carvalho