Meteorologista do Crea-SP explica atual cenário e causas que têm agravado queimadas em todo o País
O Brasil está passando por uma seca histórica que já atinge 1.400 cidades em nível extremo ou
severo. Para os próximos dias, a chegada de uma frente fria deve amenizar o tempo seco e trazer alívio durante a semana, por conta da chuva que aconteceu neste domingo (15/09) e deverá ocorrer ainda nesta segunda-feira (16/09). Contudo, a partir de 23 de setembro, a expectativa é que o País volte ao cenário atual.
O meteorologista Carlos Raupp, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG/USP) e conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea-SP), explica que a previsão climática sazonal para os próximos três meses indica persistência do atual cenário de baixa umidade e altas temperaturas nas regiões Centro-Oeste, Norte, Nordeste e Sudeste. “As chuvas ficarão concentradas no Sul do País e o tempo mais seco na maior parte do Brasil”, diz.
Segundo o meteorologista, o País ainda está sendo impactado com o fim do fenômeno El Niño. “Tivemos uma atuação do fenômeno desde o ano passado até o primeiro semestre de 2024, com um período muito seco, chuvas abaixo do normal nas regiões Norte e Centro-Oeste, e chuvas intensas no Sul. A situação atmosférica está respondendo ao término do El Niño, então, há um bloqueio atmosférico, um sistema de alta pressão que inibe a formação de chuvas e impede a passagem de frentes frias, que não conseguem chegar nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. Isso leva a altas temperaturas e a não ocorrência de chuvas”, complementa.
Além disso, a maior incidência da radiação solar e a falta de formação de nuvens geram essa onda de calor. “O cenário favorece a propagação de incêndios e a concentração de poluentes próximos à superfície. Nesse sistema de alta pressão, a atmosfera fica bastante estável e essa estabilidade desfavorece a dispersão vertical dos poluentes que tem fonte local, como os incêndios no interior do Estado e a poluição com emissão veicular e de indústrias na Região Metropolitana de São Paulo”, acrescenta o meteorologista.
A capital paulista fica mais cinza porque o bloqueio atmosférico impede que os poluentes se dispersem na vertical e fiquem concentrados na baixa troposfera. “O que leva também ao agravamento da qualidade do ar. Outro aspecto para essa concentração de poluentes é o transporte dessas fumaças que vêm das queimadas de biomassa na Amazônia. Tudo isso faz com que as condições da qualidade do ar sejam 30 vezes maiores do que o razoável para a saúde humana”, observa.
Rios voadores e chuva preta
“Temos esses jatos de baixos níveis, que são um escoamento que vêm do Norte do Brasil e chegam até aqui, na região Sudeste. Também são conhecidos como rios voadores ou rios atmosféricos, que trazem esses materiais particulados da Amazônia para cá, agravando o cenário atual da alta concentração de poluentes, que já é corroborada pela própria atuação do bloqueio atmosférico afetando a região de São Paulo”, detalha.
Com a fuligem transportada por esses corredores de umidade, o material particulado afeta a formação de nuvens, pois age como núcleo de condensação. “Esses materiais acabam agindo na nucleação das gotas de chuva, o que acaba gerando essa chuva preta”, aponta.
Apesar da mudança de tempo prevista para os próximos dias, o meteorologista alerta que eventos como esses continuarão a ser registrados.